Sérgio Maggio prepara espetáculo com Maria Alcina e inspirado em Odair José"Todos os personagens estão em trânsito, e querem deixar o lugar", explica o diretor
Publicação: 07/04/2014 07:00 Atualização: 07/04/2014 10:08
Para Sergio Maggio, o cantor Odair José é fonte de inspiração e pesquisa para a trilha sonora do espetáculo |
Enamorado do abrasileiramento dos musicais, promovido pelo caráter de crônica das peças de Arthur Azevedo, no início do século 20, o jornalista e escritor Sérgio Maggio, às vésperas da estreia da mais nova obra, promete: “Acho que é o primeiro musical midiático de Brasília. Poderia estar acontecendo em São Paulo ou no Rio de Janeiro. A gente está fazendo o eixo torcer o pescoço para cá. É um movimento inverso do que ocorreu com Os miseráveis, quando, em 2000, vários talentos locais deixaram a cidade para despontar”. Com algo do teatro de revista e com um quê burlesco, Eu vou tirar você deste lugar tem o sotaque “da boa música brasileira, no centro do palco” (leia-se Odair José), mas teima em desembocar em referência à Argentina.
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Buenos Aires é o nome da praça em que se deu crime — com saldo de três tiros na face de uma cortesã — atrelado ao mote do musical. E, vale lembrar, foi na capital portenha que Sérgio Maggio assistiu a uma franquia de Mamma mia!, um dos seus musicais favoritos. Saiu do espetáculo com a certeza: “Vou fazer um musical com dramaturgia inédita. O Odair José veio de modo automático, pelo fato de ser um cronista”.
Depois de pesquisa musical do universo brega (para O cabaré das donzelas inocentes) e de “mexer numa ferida”, com a peça Eros impuro, que excursionou por 11 capitais, o dramaturgo ouviu da mãe, dona Ester: “Meu filho, da próxima vez, faça alguma coisa mais leve”. A proposta do musical casou com “matriz da infância”, melhor, com Odair José, na rota dos radinhos de pilha das empregadas domésticas de quem Maggio “ficava nas mãos”, por ser o filho caçula. “Via a loucura delas com o Odair, que era ‘o terror das empregadas’”, recorda-se.
O musical
"Quando eu comecei a pesquisar teatro, a assistir às peças, o musical sempre teve um lugar de fascínio. Gosto do teatro do Walter Pinto, das vedetes; aliás, sempre gostei de filmes musicais", conta o dramaturgo Sérgio Maggio, ao cercar a mais nova incursão nos palcos, Eu vou tirar você deste lugar — As canções de Odair José, em cartaz a partir de 8 de maio, no CCBB. Uma retomada dos musicais, no final dos anos de 1980, motivou Maggio a observar o forte diálogo entre as montagens brasileiras e a estrutura do século 20, do teatro de revista. "Na virada dos séculos 19 para o 20, as revistas ficaram extremamente fortes, mas com toques importados. Aí vem a música brasileira, com a Chiquinha Gonzaga se encontrando com os musicais", reforça o dramatugo.
À frente do espetáculo Eros impuro, que rendeu prêmio de melhor dramaturgia em portal de alcance nacional, o baiano-brasiliense teve que frenar a quantidade de apresentações, para se dedicar ao projeto do musical, selecionado entre outros 49 (dentro de universo de 2000). Uma cortesã paulistana, incapaz de deixar a vida mais folgada, no final da década de 20, e um crime que a cercou serviram como impulsos para o musical.
"Fiz uma conexão ainda com Madame Pommery e aproveitei, da história de Nenê Romano, algo que me intrigava: para onde teriam ido as jóias, após o crime?", comenta Maggio. Espectador intenso, desde a época da importação de vários musicais — "foram muitas as franquias da Broadway, antes de se tentar um caminho brasileiro, feitas com musicais temáticos e a onda dos biográficos" —, o autor do musical conta que, entre fevereiro e março de 2013, se dedicou a intensa percepção das coletâneas, dos vinis e do material sonoro da internet que fazia jus ao ídolo Odair José.
"Vejo ele como o cara que saiu de Morrinhos (Goiás) e foi pra São Paulo. Queriam que ele fosse meio Jovem Guarda, meio Roberto Carlos, mas ele tava ligado em Peter Frampton, em Bob Dylan, e no country americano", demarca Maggio. Ele sabia que não queria fazer algo biográfico do musical e, autorizado por Odair José, buscou a materialização do projeto orçado em R$ 300 mil. Obras de Charles Möeller e Claudio Botelho — com sucessivos espetáculos ligados às imagens de Cole Porter, Beatles e Milton Nascimento — afinaram a percepção entre a ponte do que foi produzido entre o Brasil e a Broadway.
Minimizar a obra de Odair José é algo que, nitidamente, incomoda ao dramaturgo. "As pessoas sem maiores informações tem esta percepção do lado brega", demarca. Balançar a estabilidade de São Paulo como "meca dos musicais, em que compra a franquia de um espetáculo e se monta" está nos planos, indiretos de Sérgio Maggio, que deu espaço para muitos profissionais locais, ao emplacar o musical "mais midiático" da capital brasileira. Figurinos de Roustang Carrilho, expoente da Universidade de Brasília, estão entre as conquistas do espetáculo que terá música ao vivo.
Do limão, limonada
Num breve histórico sobre a escalada dos musicais no Brasil, a projeção de Odair José casa com a cristalização do golpe militar. "Com ele, veio a decadência das grandes revistas. Nos anos 60 e 70 chegam os musicais brasileiros mais politizados, com o Opinião e A ópera do malandro, que, a princípio, mundial, coloca Chico Buarque tratando do universo das favelas. Na sequência, veio o Dzi Croquettes, pendendo para o escracho, e que passará ao besteirol, e, em seguida, se chega ao sumiço dos musicais", aponta. O formato muito industrial e a estrutura hierárquica muito forte adotada por profissionais como Miguel Fallabela e Cláudia Raia — "com rígida criação de coros e orquestras" — não interessa muito ao diretor em eterno processo criativo, mas coletivo.
A possibilidade de mercado, "vislumbrada na retomada dos musicais, nos anos 80, com profissionais como Marília Pera", porém, faz parte das maiores ambições. "Quando fui escrever, pensei: ‘quero uma cantora que possa ser atriz’", lembra Maggio, ao apontar a menina dos olhos no musical: a veterana Maria Alcina. Na trama que dá forma à derrocada de promissor advogado de família muito tradicional, Maria Alcina desponta como uma cortesã de ampla experiência (sob a alcunha de China, nome aliás pertencente à outra obra do dramaturgo: O cabaré das donzelas inocentes). "Em 2002, ela lançou uma caixa e assisti a um show, em Brasília, no Feitiço Mineiro. Ela passou mal, sentou à minha mesa e socorri ela, levando para camarim e hospital", rememora. A retribuição de tanta presteza parece em curso, dado tanto esforço da atriz que está em preparo sistemático e se mudou, de mala e cuia, para Brasília.
O espetáculo virá a São Paulo?. Organizo excursões para grupos de terceira idade e quero levar nossa turma para ver a Maria Alcina neste musical. Quando tiver notícias...mme avise... abraços !
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